quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

QUESTIONÁRIO - ARGUMENTOS INFORMAIS

1 - Nos argumentos informais a validade não depende só da sua ------------- ------------- .
2 - Quais os principais argumentos informais?
3 - Num argumento indutivo, a conclusão nunca é absolutamente ----------- , mas sim ---------.
4 - Como se designam os tipos de argumentos indutivos que estudámos?
5 - A generalização consiste em atribuir a ------- o que só sabemos de ----------.
6 - Na generalização, as --------- são sempre -------- abrangentes do que a ------------.
7 - Uma generalização tem sempre conclusão ------------.
8 - Uma generalização, para ser forte, tem que ter uma amostra -----------.
9 - Numa generalização não se pode omitir ----------- -----------.
10 - Uma previsão parte de casos passados para obter uma conclusão que se refere a casos ----- ainda não --------.
11 - Na previsão, a verdade da conclusão não é ----------.
12 - Numa previsão, quanto mais --------- o número de casos --------, mais -------- será a ocorrência de um caso igual.
13 - A analogia baseia-se numa -----------.
14 - A analogia compara duas realidades que assemelham em alguns aspectos conhecidos e, tendo uma delas uma certa característica, conclui-se que a outra ----------- -- -----.
15 - O argumento de autoridade apresenta uma conclusão que se baseia no testemunho de uma ------------- na matéria em causa, levando a aceitar tal conclusão como -----------.
16 - No argumento de autoridade deve haver ----------- entre os especialistas acerca do assunto em causa.
17 - No argumento de autoridade, a autoridade invocada tem ser ------------ sobre o tema abordado.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

NOÇÕES DE LÓGICA INFORMAL

PRINCIPAIS TIPOS DE ARGUMENTOS INFORMAIS


-Os argumentos informais são argumentos em que a validade não depende só da sua forma lógica.

-A validade destes argumentos depende também do contexto prático da argumentação, do seu conteúdo e do estado cognitivo do auditor.

-Os principais tipos de argumentos informais são os argumentos indutivos e os de autoridade.




OS ARGUMENTOS INDUTIVOS E OS SEUS DIVERSOS TIPOS


-Um argumento indutivo é aquele em que a validade não depende exclusivamente da sua forma lógica.

-Num argumento indutivo válido, a conclusão, embora não sendo absolutamente garantida pelas premissas, é fortemente apoiada por elas.

-Numa indução a conclusão nunca é absolutamente garantida, mas sim provável, plausível ou verosímil.

-Num argumento indutivo válido é muito provável que a conclusão seja verdadeira e, deste modo, o argumento é considerado forte.

-Existem três tipos de argumentos indutivos: a generalização, a previsão e o argumento por analogia.



A GENERALIZAÇÃO

-A generalização, como o próprio nome indica, consiste em generalizar, isto é, em atribuir a todos os elementos de uma classe aquilo que só vimos ou conhecemos em alguns.

-Este raciocínio leva-nos a dizer de todos aquilo que só sabemos de alguns.

-A conclusão de uma generalização será sempre bastante ampla.

-É evidente que quando atribuímos a todos os casos possíveis aquilo que só observámos em alguns, estamos a tirar uma conclusão geral a partir de premissas particulares ou menos gerais.

-Neste tipo de argumento, as premissas são sempre menos abrangentes do que a conclusão.-Numa generalização, a conclusão tem tendência a dizer mais do que as premissas, daí que a conclusão seja sempre universal.

-Contudo, este tipo de raciocínio não garante a verdade da conclusão.-Na generalização, a conclusão poderá ser muito provável ou plausível, mas nunca temos a garantia da sua absoluta verdade.

-Ainda que se parta de premissas verdadeiras, não há possibilidade de garantir logicamente a verdade da conclusão.

-Na generalização, as conclusões são logicamente falíveis.

-Há três regras fundamentais que se devem cumprir para que uma generalização seja forte.

-A primeira regra diz que a amostra deve ser ampla, ou seja, quanto maior for o número de casos observados, mais forte será o argumento (eu poderei dizer com mais força e legitimidade que “todas as bailarinas são vaidosas” se tiver observado 150 balarinas, do que se tiver observado só 3 ou 4).

-A segunda regra diz-nos que a amostra deve ser relevante, isto é, deve haver uma relação entre o conteúdo das premissas e o conteúdo da conclusão, de modo que toda a classe seja representada.

-Esta regra defende que uma amostra deve representar toda a classe e não apenas algumas das suas espécies e defende ainda que a conclusão não pode esquecer aspectos importantes e conhecidos da classe (para eu concluir com mais legitimidade que “todos os iogurtes são doces”, convém que prove de todos os sabores e de todas as marcas e que experimente também os iogurtes magros).

-A terceira regra diz: não omitir informação relevante, o que significa que não se pode ocultar informação importante quando queremos generalizar (eu não posso apresentar a conclusão que diz que “todos os alunos da turma X são simpáticos”, se um determinado aluno tiver sido profundamente antipático numa situação qualquer).

-Assim, um argumento é mau (inválido, fraco) quando esconde uma prova de que a conclusão é falsa.

-Este processo de generalização indutiva está, por exemplo, na base das sondagens e da investigação em algumas ciências, nomeadamente a biologia ou a sociologia.

-A generalização não afasta a possibilidade de erro, uma vez que não há garantia da verdade da conclusão. Isto acontece devido ao carácter «aberto» do raciocínio indutivo, já que a qualquer momento podemos descobrir um facto que altere completamente a conclusão.

-No entanto, deve afirmar-se que o raciocínio indutivo pode ser bastante preciso e de
confiança.



A PREVISÃO

-Numa previsão as premissas reportam-se sempre a um conjunto de casos e a conclusão diz respeito a casos particulares.

-Este tipo de argumento parte de casos passados para obter uma conclusão que se refere a casos particulares ainda não observados.

-Também na previsão a verdade da conclusão não é garantida.

-Efectivamente, nada impede que venha a ocorrer um resultado Z mesmo que nos casos observados até agora tenha acontecido sempre um resultado Y.

-A previsão é um tipo de raciocínio em que se espera que o que ocorreu até agora venha também a ocorrer no futuro, prevendo-se, deste modo, que a realidade e os fenómenos se mantenham constantes ou permanentes.

-Uma regra essencial para que uma previsão possa ser considerada forte é a seguinte: quanto mais elevado o número de casos observados, mais provável será a ocorrência de um caso igual (ainda não observado).




O ARGUMENTO POR ANALOGIA

-Este argumento consiste em atribuir uma propriedade a um objecto ou a uma situação, por tal propriedade ocorrer num objecto ou numa situação semelhante.

-Um argumento por analogia baseia-se numa comparação.

-O raciocínio analógico tem a seguinte estrutura: perante duas realidades que se assemelham fortemente e tendo uma delas uma certa característica, concluímos que também a outra tem essa mesma característica.

-Nos argumentos por analogia a conclusão não é garantidamente verdadeira, podendo estes argumentos ser mais ou menos fortes.

-Para determinar a força e a legitimidade de uma analogia é necessário recorrer a certos critérios ou regras.

-A primeira regra diz que a amostra deve ser suficiente, ou seja, a conclusão será tanto mais forte quanto mais elevado o número de objectos comparados.

-A segunda regra afirma que o número de semelhanças verificadas deve ser suficiente, o que significa que a força do argumento analógico cresce se o número de semelhanças verificadas aumentar.

-A terceira regra defende que as semelhanças verificadas devem ser relevantes, isto é, as semelhanças são relevantes se evidenciarem que há algo de significativo que efectivamente relaciona os objectos comparados.

-Do mesmo modo, podemos afirmar que uma analogia não tem validade se os objectos comparados não forem semelhantes nos seus aspectos relevantes.

-A falácia da falsa analogia ocorre quando há diferenças entre as duas coisas comparadas que derrotam a conclusão.

-Um argumento analógico satisfatório será o seguinte: «um homem grita quando lhe batem; um cão grita quando lhe batem; um homem foge quando lhe batem; um cão foge quando lhe batem, um homem sente dor quando lhe batem; logo, um cão sentirá dor quando lhe batem».




O ARGUMENTO DE AUTORIDADE

-Um argumento de autoridade consiste em defender a verdade de uma conclusão porque uma certa autoridade (uma ou várias pessoas, uma ou várias instituições) defende que ela é verdadeira.

-Num argumento de autoridade, a conclusão não é garantidamente verdadeira, mas as premissas podem apoiar fortemente a conclusão, isto é, podem contribuir bastante para que ela seja aceite como muito provável.

-Contudo, é necessário que a autoridade invocada satisfaça certas condições:

- A primeira é a condição de competência, o que significa que a autoridade invocada tem que ser competente no que respeita ao assunto em causa. Ou seja, as pessoas ou instituições mencionadas têm que ser especialistas de reconhecido mérito nos assuntos em questão.

-Por outro lado, deve haver consenso entre os especialistas sobre os assuntos abordados, o que quer dizer que não podem existir autoridades competentes que se contradigam.

-Platão e Descartes defendem que «a alma é imortal», mas há outros filósofos igualmente competentes que não defendem a mesma tese, logo, este não é um argumento inteiramente satisfatório e não podemos tomar a posição daqueles filósofos como uma justificação absoluta para acreditarmos na imortalidade da alma.

-Outra condição é a condição de imparcialidade, o que quer dizer que a autoridade invocada tem de ser imparcial sobre o assunto em causa. Por exemplo, se uma empresa tabaqueira declarasse que «o tabaco faz bem à saúde», não levaríamos a sério a sua posição, pois sabemos que essa empresa não é imparcial, dado o seu interesse em vender tabaco.

-Um argumento de autoridade satisfatório seria o seguinte: «os nutricionistas defendem que uma alimentação pobre em vegetais é pouco saudável; logo, uma alimentação pobre em vegetais é pouco saudável». De facto, sabendo que os nutricionistas são autoridades competentes e imparciais no que respeita à nutrição e que não há outras autoridades que os contradigam, a premissa constitui uma boa razão para aceitar a conclusão.

terça-feira, 20 de maio de 2008

THOMAS KUHN E OS PARADIGMAS CIENTÍFICOS

-Thomas Kuhn (1922-1996) defende que todas disciplinas cientificamente amadurecidas se organizam de acordo com paradigmas.

- No entanto, antes do paradigma estar devidamente constituído, não existe ainda ciência propriamente dita. Os investigadores encontram-se num período de pré-ciência.

- Entre os investigadores, no período de pré-ciência, não existe acordo relativamente aos fundamentos da disciplina em que trabalham.

- É ultrapassado o período pré-científico quando surge uma teoria de tal forma poderosa e consensual que todos os investigadores se agregam em seu torno.

- Esta teoria poderosa e consensual irá ajudar a fundar um paradigma.

- Um paradigma assume-se como um modelo de investigação através do qual os cientistas desenvolvem a sua actividade.

- Para Kuhn a história de uma disciplina científica é uma sucessão de paradigmas.

- Um paradigma é toda uma forma de fazer ciência e regula o trabalho científico numa certa área de investigação.

- Sendo aceite por toda a comunidade científica, o paradigma oferece uma determinada visão do mundo.

- Segundo Kuhn, um paradigma inclui: um conjunto de leis científicas próprio; regras para aplicar as leis à realidade; regras para usar instrumentos científicos; certos princípios metafísicos e filosóficos (uma vez que apresenta pressupostos gerais sobre o funcionamento do universo).

- Também os métodos de trabalho e os problemas a resolver são sempre específicos de um paradigma.

- Quando um paradigma surge, inicia-se um período de ciência normal. Neste período, a actividade científica consiste em resolver problemas de acordo com as normas do paradigma.

- Num período de ciência normal, os cientistas não procuram refutar ou criticar a teoria central do paradigma. Pelo contrário, tentam aumentar a credibilidade dessa teoria e aumentar o leque de explicações fornecido pelo paradigma.

- Um período de ciência normal terá sempre uma duração temporal indefinida e só poderá alterar-se a rotina quando começarem a aparecer problemas que os cientistas não conseguem resolver recorrendo ao paradigma.

- Ao longo do período de ciência normal, em que os cientistas trabalham pacificamente na resolução de problemas, podem surgir enigmas que não se conseguem resolver, mas que supostamente se deveriam conseguir resolver recorrendo ao paradigma. É assim que surge uma anomalia.

- Quando estamos perante uma anomalia, há algo na natureza que não acontece de acordo com a explicação apresentada pelo paradigma.

- Contudo, o aparecimento de algumas anomalias dispersas não provoca ainda grande instabilidade no seio da comunidade científica.

- Por outro lado, os cientistas procuram ignorar a anomalia ou diminuir a sua importância, esperando que o facto que lhe deu origem possa vir a ser solucionado pelo paradigma. A prática científica demonstra uma tentativa de salvar a todo o custo o paradigma em vigor.

- Uma anomalia começa a tornar-se mais visível quando ameaça os fundamentos do paradigma.

- Quando as anomalias colocam verdadeiramente em causa os fundamentos do paradigma e quando elas se começam a acumular, estão reunidas as condições para a emergência de uma crise.

- Uma crise é um período de insegurança em que a confiança no paradigma é abalada por sérias anomalias.

- O paradigma entra em crise porque se descobrem cada vez mais fenómenos que não estão de acordo com o paradigma.

- Durante uma época de crise, a confiança no paradigma diminui e a investigação tranquila característica da ciência normal dá lugar a um período de ciência extraordinária.

- Ao longo de um período de ciência extraordinária, os fundamentos do paradigma vigente acabarão por ser postos em causa e assiste-se a uma disputa e a um desacordo entre cientistas, instalando-se um certo mal-estar.

- A maior parte dos cientistas resiste a abandonar o paradigma em que trabalha, chegando mesmo a desvalorizar algumas anomalias.

- Assim, o fim de uma crise só poderá ocorrer quando surgir um novo paradigma que conduza a um consenso na comunidade científica.

- No entanto, a instauração de um novo paradigma não é tarefa fácil e rápida. Na verdade, para que seja possível o seu aparecimento, é preciso que surja primeiro uma nova teoria proposta por um cientista fortemente envolvido na crise.

- Esta nova teoria vai contribuir decisivamente para ajudar a fundar o novo paradigma. Quando isto acontece, afirma Kuhn, dá-se o passo decisívo para a ocorrência de uma revolução científica.

- A revolução científica corresponde a uma mudança de paradigma, isto é, a um triunfo do novo paradigma sobre o velho paradigma.

- A revolução científica mostra que a comunidade científica aderiu a um novo paradigma incompatível com o anterior.

- Kuhn considera que a diferença de paradigmas é de tal modo radical que eles não se podem comparar. Este facto revela que existe uma incomensurabilidade entre paradigmas.

- Uma mudança de paradigma corresponde a uma «mudança de mundo» para os cientistas. Entre os paradigmas existe um abismo, eles são incomparáveis.

- Deste modo, estamos perante uma das teses mais controversas defendidas por Kuhn, a qual nos leva a concluir que é impossível determinar se um paradigma é superior ou mais verdadeiro do que outro.

- Não podemos saber se um novo paradigma constitui um avanço em direcção à verdade, já que não o podemos comparar com o paradigma anterior.

- Assim, pode concluir-se que o conceito de verdade é, segundo Kuhn, sempre relativo a um paradigma, ou seja, aquilo que é verdade num paradigma pode não ser noutro. Ora, esta tese impede-nos de saber se a ciência progride em direcção à verdade.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

KARL POPPER E O FALSIFICACIONISMO




KARL POPPER (1902-1994) E A CRÍTICA À CONCEPÇÃO CLÁSSICA DE CIÊNCIA



- Popper é um autor que considera que o principal poder da racionalidade humana assenta na consciência da sua falibilidade.

- O reconhecimento da nossa ignorância e a recusa em aceitar certezas absolutas funcionam como o motor de todo o conhecimento científico.

- Popper defende que em ciência o método que vigora é o método falsificacionista.

- Este método consiste em submeter permanentemente as hipóteses ou teorias científicas a testes e críticas no sentido de lhes detectar erros ou falhas. O papel dos testes é tentar mostrar que as teorias são falsas e não provar que são verdadeiras.

- O trabalho do cientista não é verificar as suas teses, mas antes submetê-las às mais duras tentativas de refutação (falsificabilidade).

- Segundo Popper, tentar mostrar que uma teoria é falsa é a melhor forma de legitimar a força de uma teoria, caso ela resista a essa tentativa.

- Quando uma teoria resiste aos testes da sua falsificação, não podemos dizer que ela é verdadeira, só podemos dizer que a teoria é verosímil e que foi corroborada, isto é, que deve aceitar-se enquanto sobreviver aos testes.

- As teorias científicas que resistem aos testes mais severos devem ser levadas a sério, mas isso não quer dizer que elas possam ser consideradas verdades absolutas. Essas teorias podem ser vistas unicamente como aproximações à verdade, sendo esta considerada um ideal inalcançável.

- Popper opõe-se, portanto, ao método verificacionista e rejeita a indução, não aceitando que uma teoria científica possa ser verificada ou provada. A verdade absoluta de uma teoria nunca poderá estar garantida.

- As teorias, consistindo em enunciados universais e tendo que ser confrontadas com os factos através de experiências, apresentam-se como impossíveis de comprovar, visto que não é possível observar todos os casos existentes, nem sabemos com certeza absoluta se o que se verificou até ao presente se irá verificar no futuro.

- Uma teoria que resiste à tentativa da sua refutação é uma teoria na qual ainda não foram detectadas falsidades, mas no futuro poderá ser descoberta qualquer falha e, nessa medida, a teoria será substituída por outra mais forte e mais completa.

- Para Popper, a ciência não se apresenta como um conjunto de verdades irrefutáveis, mas sim como um esforço para eliminar o erro.

- Um critério fundamental que permite distinguir uma teoria científica de uma teoria não científica é a sua testabilidade. Na visão popperiana, uma teoria para poder ser científica tem que se prestar a ser testável ou refutável. Só deste modo a teoria poderá ser submetida a testes e resistir-lhes. Caso isto aconteça, a teoria será corroborada. Se não resistir aos testes, a teoria será refutada.

- A ciência progride por conjecturas (hipóteses aceites provisoriamente) e refutações. De eliminação de erro em eliminação de erro, a ciência vai-se aproximando da verdade.

- A ciência evolui por eliminação de erros e não por acumulação de verdades.

- Graças à crítica e aos testes permanentes, podemos testemunhar a descoberta de erros e falhas nas teorias científicas, facto que conduz ao aparecimento de teorias melhores e consequentemente, ao progresso da ciência.

- A ciência é, segundo Popper, uma actividade crítica que procura uma gradual aproximação à verdade. A verdade funciona como um ideal regulador que nunca se atinge, enquanto as teorias corroboradas são vistas como versões aproximadas da verdade.

- Todas as hipóteses científicas apresentadas para solucionar problemas são conjecturas que, sendo obrigatoriamente testáveis, mais tarde ou mais cedo darão origem a novas dificuldades ou a novos problemas.

- Uma teoria que resiste à tentativa da sua refutação terá de ser aceite pela comunidade científica. A teoria será corroborada até lhe ser detectada uma dificuldade ou uma falha. Quando isso acontecer, a teoria será substituída por outra mais consistente ou adequada.

- Além das teorias, também os testes se vão tornando mais fortes e eficazes. Este facto reforça a convicção de Popper de que uma teoria pode resistir hoje aos testes da sua falsificação, mas pode no futuro revelar uma falha ou um erro que só um teste novo conseguirá detectar.

- Assim, pode dizer-se que o erro tem um papel importante na construção de novas teorias e que o desenvolvimento da ciência é uma evolução em direcção à verdade, mas não a sua posse definitiva.

- A ciência é, para Popper, um processo dinâmico que vai proporcionando uma aproximação cada vez mais precisa a um entendimento da realidade, embora nunca se possa afirmar que se atingiu plenamente a verdade.

terça-feira, 1 de abril de 2008

CONHECIMENTO VULGAR E CONHECIMENTO CIENTÍFICO




O CONHECIMENTO VULGAR

- O conhecimento vulgar corresponde ao senso comum e abrange aquelas coisas que quase toda a gente sabe.
- Reporta-se àquilo que vamos aprendendo desde muito cedo e, por vezes, até de uma forma quase inconsciente.
- As crenças e opiniões que partilhamos, as tradições e jogos, as celebrações e ofícios, as tarefas e lendas dizem respeito ao senso comum.
- Adquire-se através da repetição de experiências, do testemunho e do exemplo dos outros (família, amigos, vizinhos, etc.), com a prática e também com os erros.
- Ajuda a sobreviver e a conviver, ajuda nas tarefas do quotidiano e nos mais diversos ofícios e ajuda-nos a desempenhar papéis sociais ao longo da vida.
- Trata-se de um conhecimento assistemático, pois consiste num conjunto de informações dispersas e pouco estruturadas.
- É um conhecimento superficial e mais direccionado para um domínio prático, porque não procura as causas e os porquês dos fenómenos e porque tem em vista o funcionamento das coisas e a realização de tarefas.
- É um conhecimento acrítico e passivo, na medida em que se aceita sem se pôr em causa, sem se questionar.
- Está pouco sujeito a mudanças rápidas ou radicais, embora não seja completamente estático, já que acaba, por vezes, por sofrer a influência das descobertas científicas.
- A linguagem usada no conhecimento vulgar é a nossa linguagem de todos os dias e, frequentemente, os termos utilizados são imprecisos e vagos.
- Apesar de ser muitas vezes dogmático e erróneo às vezes, o senso comum constitui um saber válido e indispensável.



O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

- O conhecimento científico diz respeito a um tipo específico de conhecimento que é realizado por cientistas em universidades, institutos de investigação, laboratórios, empresas, etc..
- É um conhecimento sistemático, já que as diferentes ciências consistem em corpos organizados de conhecimento.
- É rigoroso e objectivo, porque procura respostas para questões sobre o mundo, o homem, a natureza, a vida, etc., tentando obter respostas aceitáveis do ponto de vista lógico e racional.
- Assim, as ciências distinguem-se do senso comum porque têm em vista uma explicação dos factos que seja controlável através de experiências científicas.
- O conhecimento científico tem como objectivo explicar tão profundamente quanto possível os factos e fenómenos conhecidos.
- Através do senso comum sabemos que o metal dilata quando é aquecido, mas só a ciência nos mostra por que motivo isso acontece.
- As explicações científicas aparecem em teorias apresentadas por cientistas.
- Os cientistas tentam encontrar uma ordem por detrás das aparências e, para esse efeito, avançam hipóteses que visam captar as leis da Natureza.
- Quando são bem sucedidos, os cientistas conseguem explicar fenómenos muito diversos a partir de um número reduzido de leis.
- As teorias científicas são testáveis, isto é, os cientistas confrontam-nas com a experiência e elas podem ser modificadas caso não estejam de acordo com a realidade.
- Podemos afirmar que o conhecimento científico é acompanhado por uma atitude crítica, na medida em que os cientistas não encaram as teorias como inquestionáveis, podendo ser revistas em qualquer altura.
- Assistimos, portanto, à mudança de teorias científicas com alguma frequência.
- A linguagem científica é rigorosa, porque sem esse rigor não seria possível conceber teorias que expliquem os fenómenos e que possam ser controladas pela experiência.
- O conhecimento científico é hoje um tipo de conhecimento fundamental, pois desempenha um papel importantíssimo na vida dos homens, embora possa ter fortes implicações no meio ambiente. Por isso, não devemos encará-lo com reverência e passividade, mas sim com espírito crítico e problematizador.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

DAVID HUME E O EMPIRISMO





DAVID HUME (1711-1776)
-Hume realizou uma investigação sobre a origem, possibilidade e limites do conhecimento.
-Este autor pensa que a capacidade cognitiva da razão humana é limitada e que não existe nenhum fundamento objectivo para o conhecimento.
-O empirismo de David Hume opõe-se, portanto, ao racionalismo de Descartes.
-Segundo Hume, todo o conhecimento deriva da experiência.
-Para este filósofo escocês, todas as nossas ideias têm origem nas impressões dos sentidos.



IMPRESSÕES E IDEIAS
-Segundo Hume, o conhecimento é constituído por impressões e ideias.
-As impressões englobam as sensações, as emoções e as paixões.
-As impressões possuem um elevado grau de força e vivacidade, porque correspondem a uma experiência presente ou actual.
-As impressões são a base, a origem, o ponto de partida dos conhecimentos.
-As ideias são as representações ou imagens das impressões no pensamento.
-As ideias são memórias ou imagens enfraquecidas das impressões no pensamento.
-As ideias são menos vivas e intensas do que as impressões, já que estas são a causa das ideias.
-Não pode existir ideia sem uma impressão prévia.
-Não há conhecimento fora dos limites impostos pelas impressões.



OS TIPOS DE CONHECIMENTO: CONHECIMENTO DE RELAÇOES DE IDEIAS E CONHECIMENTO DE FACTOS
-Para Hume, o conhecimento de relação de ideias consiste em estabelecer relações entre as ideias que fazem parte de uma afirmação ou de um pensamento.
-Podemos relacionar ideias sem recorrer à experiência, embora todas as ideias derivem das impressões sensíveis.
-O conhecimento de relações de ideias é independente dos factos e, segundo Hume, não nos dá novas informações.
-Este tipo de conhecimento está principalmente ligado à lógica e à matemática.
-Trata-se de um conhecimento que relaciona conceitos ou ideias e que se baseia no princípio de não contradição.
-Segundo Hume, o conhecimento humano também se refere a factos, à experiência.
-Este conhecimento relativo aos factos baseia-se na experiência sensível e é-nos proporcionado pelas nossas impressões.
-O conhecimento de factos não se baseia no princípio de não contradição, já que é possível afirmar o contrário de um facto.
-A verdade ou falsidade de um conhecimento de factos só pode ser determinada através do confronto com a experiência, isto é, a posteriori.



O PROBLEMA DA CAUSALIDADE
-Hume diz-nos que todas as ideias derivam de impressões sensíveis.
-Assim, do que não há impressão sensível não há conhecimento.
-Deste modo, não podemos dizer que tenhamos conhecimento a priori da causa de um acontecimento, ou de um facto.
-Embora tendo consciência da importância que o princípio de causalidade teve na história da humanidade, Hume vai submetê-la a uma crítica rigorosa.
-Segundo David Hume, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões actuais e às recordações de impressões passadas.
-Assim, se não dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no futuro, também não possuímos o conhecimento dos factos futuros.
-Não podemos dizer o que acontece no futuro porque um facto futuro ainda não aconteceu.
-Contudo, há muitos factos que esperamos que se verifiquem no futuro. Por exemplo, esperamos que um papel se queime se o atirarmos ao fogo.
-Esta certeza que julgamos ter (que o papel se queima), tem por base a noção de causa (nós realizamos uma inferência causal), ou seja, atribuímos ao fogo a causa de o papel se queimar.
-Sucede que, segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de causalidade necessária entre os fenómenos.
-Hume afirma que só a partir da experiência é que se pode conhecer a relação entre a causa e o efeito.
-Para o autor escocês, não se pode ultrapassar o que a experiência nos permite.
-A experiência é, pois, a única fonte de validade dos conhecimentos de factos. Quer dizer que só podemos ter um conhecimento a posteriori.
-A única coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se verificou, no passado, uma sucessão constante, ou seja, que a seguir a um determinado facto ocorreu sempre um mesmo facto.



CONCLUSÕES
-Para D. Hume, é o hábito que nos leva a inferir uma relação de causa e efeito entre dois fenómenos.
-Se no passado ocorreu sempre um determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos que no presente e no futuro também ocorra assim.
-O hábito e o costume permitem-nos partir de experiências passadas e presentes em direcção ao futuro.
-Por isso, o nosso conhecimento de factos futuros não é um conhecimento rigoroso, é apenas uma convicção que se baseia num princípio psicológico: o hábito.
-O hábito é, no entanto, um guia importante na vida prática e no dia-a-dia.
-Uma vez que ainda não vivemos o futuro, o hábito permite-nos esperar o que poderá acontecer e leva-nos a ter prudência e cuidado, ou boas expectativas.
-Enquanto seres humanos, temos vontade (e adaptamo-nos à ideia) de que o futuro seja previsível e, portanto, controlável.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

DESCARTES E O RACIONALISMO



O RACIONALISMO
-O Racionalismo é uma corrente que defende que a origem do conhecimento é a razão.
-Os racionalistas acreditam que só a razão pode levar a um conhecimento rigoroso.
-Os racionalistas desvalorizam os sentidos e a experiência devido à sua falta de rigor.
-Os racionalistas possuem uma visão optimista da razão porque acreditam que ela possibilita o conhecimento humano.



DESCARTES (1596-1650)
-Sendo um racionalista convicto, Descartes procurou combater os cépticos e reabilitar a razão.
-Os cépticos duvidavam ou negavam mesmo que a razão pudesse conduzir ao conhecimento.
-Descartes vai procurar demonstrar que a razão é a origem do conhecimento humano.


DESCARTES E O MÉTODO
-Para mostrar que a razão pode atingir um conhecimento verdadeiro, Descartes vai criar um método.
-Este método tem como objectivo a obtenção de uma verdade indiscutível.
-De entre as regras do método, pode destacar-se a regra da evidência.
-Esta regra diz-nos para não aceitarmos como verdadeiro tudo que possa deixar dúvidas.
-A dúvida é, portanto, um elemento muito importante do método.


A DÚVIDA
-Recusando tudo que possa suscitar incerteza, a dúvida afirma-se como um modo de evitar o erro.
-A dúvida é um instrumento da razão na busca da verdade.
-A dúvida procura impedir a razão de considerar verdadeiros conhecimentos que não merecem esse nome.




CARACTERÍSTICAS DA DÚVIDA
-A dúvida é: »metódica (faz parte de um método que procura o conhecimento verdadeiro);
»provisória (é temporária, isto é, pretende-se ultrapassá-la e chegar à verdade);
»hiperbólica (exagerada propositadamente, para que nada lhe escape);
»universal (aplica-se a todo o conhecimento em geral);
»radical (incide sobre os fundamentos, as bases de todo o conhecimento);
»uma suspensão do juízo (ao duvidar evitam-se os erros e os enganos);
»catártica (purifica e liberta a mente de falsos conhecimentos);
»um exercício voluntário e autónomo (não é imposta, é uma iniciativa pessoal);
»uma prova rigorosa (nada será aceite como verdadeiro sem ser posto em dúvida);
»um exame rigoroso (que afasta tudo que possa ser minimamente duvidoso).

NÍVEIS DE APLICAÇÃO DA DÚVIDA

-Descartes vai aplicar a dúvida a tudo que possa causar incerteza, nomeadamente:
»as informações dos sentidos;
»as nossas opiniões, crenças e juízos precipitados;
»as realidades físicas e corpóreas e, duma maneira geral, tudo que julgamos real;
»os conhecimentos matemáticos;
»também Deus é submetido à prova rigorosa da dúvida, uma vez que Descartes coloca a hipótese de Deus poder ser enganador ou um génio do mal.


-A dúvida hiperbólica e radical e a possibilidade de Deus ser enganador parecem levar a um beco sem saída. Quer dizer, torna-se quase impossível acreditar que a razão humana pode alcançar conhecimentos verdadeiros. No entanto, há uma saída.


O COGITO (PENSO, LOGO, EXISTO)
-A dúvida irá conduzir a razão a uma primeira verdade incontestável.
-Mesmo que se duvide ao máximo, não se pode duvidar da existência daquele que duvida.
-A dúvida é um acto do pensamento e não pode acontecer sem um autor.
-Chegamos então à primeira verdade: «penso, logo, existo» (cogito ergo sum).
-Toda a mente humana sabe de forma clara e distinta que, para duvidar, tem que existir.
-A verdade, para Descartes, deve obedecer aos critérios da clareza e distinção.
-A verdade «eu penso, logo, existo» é uma evidência. Trata-se de um conhecimento claro e distinto que irá servir de modelo para todas as verdades que a razão possa alcançar.
-Este tipo de conhecimento deve-se exclusivamente ao exercício da razão e não dos sentidos.
-Descartes mostrou que a razão, só por si, é capaz de produzir conhecimentos verdadeiros, pois ela alcançou uma verdade inquestionável.
-Mas apesar da razão ter chegado ao conhecimento verdadeiro, ainda não está excluída a hipótese do Deus enganador.
-Descartes considera fundamental demonstrar a existência de Deus, um Deus que traga segurança e seja garantia das verdades.


A EXISTÊNCIA DE DEUS
-Descartes considera que termos a percepção que existimos não chega para a fundamentação do conhecimento.
-Para Descartes, é essencial descobrir a causa de o nosso pensamento funcionar como funciona e explicar a causa da existência do sujeito pensante.
-Descartes parte das ideias que estão presentes no sujeito para provar a existência de Deus.
-As ideias que qualquer indivíduo possui são de três tipos: adventícias, factícias e inatas.
-Uma das ideias inatas que todos nós temos na mente é a ideia de perfeição. É esta ideia que Descartes vai usar como ponto de partida para as provas da existência de Deus.


PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS
-Descartes apresenta três provas:
»1ª prova: sendo Deus perfeito, tem que existir. Não é possível conceber Deus como perfeição e não existente.
»2ª prova: a causa da ideia de perfeito não pode ser o ser pensante porque este é imperfeito. A ideia de perfeição só pode ter sido criada por algo perfeito, Deus.
»3ª prova: o ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois se tivesse sido ter-se-ia criado perfeito. Só a perfeição divina pode ter sido a criadora dor ser imperfeito e finito que é o homem e de toda a realidade.

A IMPORTÂNCIA DE DEUS NO SISTEMA CARTESIANO E A QUESTÃO DOS ERROS DO SER HUMANO

-Deus, sendo perfeito, não pode ser enganador. Enquanto perfeição, Deus é garantia da verdade das nossas ideias claras e distintas (por exemplo: 2+2=4 ou «penso,logo, existo»).

-Se Deus é perfeito e criador do homem e da realidade, então é também o criador das verdades incontestáveis e o fundamento da certeza.

-Segundo Descartes, é Deus que garante a adequação entre o pensamento evidente (verdadeiro) e a realidade, conferindo assim validade ao conhecimento.

-Deus é a perfeição, ou seja, é o bem, a virtude, a eternidade, logo, não poderá ser o autor do mal nem responsável pelos nossos erros.

-Se Deus não existisse e não fosse perfeito, não teríamos a garantia da verdade dos conhecimentos produzidos pela razão, nem teríamos a garantia de que um pensamento claro e distinto corresponde a uma evidência, isto é, a uma verdade incontestável. Se Deus não é enganador, então as nossas evidências racionais são absolutamente verdadeiras.

-Se Deus não existisse, para Descartes, seria «o caos» e nunca poderíamos ter a garantia do funcionamento coerente da nossa razão nem ter noção de como se tornou possível a nossa existência.

-Os erros do ser humano resultam de um uso descontrolado da vontade, quando esta se sobrepõe à razão.

-Erramos quando usamos mal a nossa liberdade e quando aceitamos como evidentes afirmações que o não são, logo, Deus não é responsável pelos nossos erros mas é garantia das verdades alcançadas pela razão humana.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PLATÃO E O CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA

Tópicos de revisão relativos à concepção tradicional de conhecimento defendida por Platão (c.429 a.C. - 347 a. C.).

-Platão defende que o conhecimento parte sempre de uma crença, de uma convicção.
-Uma crença é uma atitude de adesão, é acreditar em algo.
-Qualquer pessoa que sabe alguma coisa tem que acreditar nessa mesma coisa.
-Para Platão, não podemos ter conhecimento de algo em que não acreditamos.
-A crença é, portanto, a primeira condição necessária para o conhecimento, mas não é suficiente.
-A crença é um ponto de partida para o conhecimento.
-Se admitimos que existe a verdade temos que admitir que existe a falsidade.
-A verdade ou a falsidade só existem relativamente a uma crença, opinião ou proposição.
-A verdade ou falsidade de uma crença depende de algo exterior à crença.
-Uma crença pode ser verdadeira ou falsa.
-Uma crença falsa não poderá conduzir a qualquer conhecimento.
-A segunda condição necessária para que ocorra o conhecimento é a verdade.
-Para haver conhecimento, é necessário que uma pessoa acredite em algo e que este algo seja verdadeiro.
-Contudo, podemos ter uma crença verdadeira e não se tratar de conhecimento, pois podemos ter uma crença e ela ser verdadeira por sorte ou por coincidência.
-Assim, uma crença verdadeira ainda não é conhecimento.
-Segundo Platão, é necessário que ocorra uma terceira condição para que haja conhecimento.
-A terceira condição necessária para que aconteça o conhecimento é a justificação.
-Uma opinião verdadeira só por si ainda não é conhecimento, é necessário que se possua uma justificação que comprove a verdade da crença.
-A justificação consiste na razão (ou razões) que suporta a verdade da crença.
-Platão defende que só quando estamos perante as três condições necessárias (crença, verdade e justificação) é que podemos afirmar estar na posse de um efectivo conhecimento.
-Assim, só podemos conhecer aquilo que se pode justificar e não podemos conhecer aquilo que não é possível justificar.
-Consideradas isoladamente, nehuma das condições é suficiente para que haja conhecimento.


CRÍTICA DE EDMUND GETTIER (n.1927) À IDEIA DE CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA.

-Num artigo de 1963, Gettier contestou a definição tradicional de conhecimento defendida por Platão.
-Gettier apresentou contra-exemplos que mostram que possuir uma crença verdadeira justificada pode não ser conhecimento.
-Para Gettier, é possível não possuir qualquer conhecimento mesmo que se tenha uma crença verdadeira justificada.

»»»Vejamos um exemplo, semelhante aos apresentados por Gettier, que contraria a teoria platónica.

»Uma noite encontrei o Rafael no supermercado a comprar dois pastéis de nata.
»Ele disse-me que os pastéis eram para oferecer à Ioana no dia seguinte.
»Eu cheguei à aula na manhã seguinte e disse ao resto da turma que o Rafael ia oferecer dois pastéis de nata à Ioana.
»Eu tinha uma crença verdadeira porque o vi a comprar os pastéis e a colocá-los num saco.
»A minha crença verdadeira estava justificada porque o Rafael me disse que os tinha comprado para oferecer à Ioana.
»E a verdade é que logo em seguida o Rafael entrou na sala com o embrulho e ofereceu-o à Ioana.
»Mas, acontece que durante a noite o Rafael teve fome e comeu os pastéis. Assim, os pastéis desapareceram e ele já não podia oferecê-los.
»A aula era logo à primeira hora da manhã e o Rafael veio à pressa, mas encontrou uma vendedora de pastéis junto à porta da escola. Aproveitou e comprou dois para a Ioana.
»Ora, apesar de eu acertar ao dizer que aquele aluno chegaria à aula com dois pastéis para a aluna em causa, eu não tinha efectivo conhecimento.
»A minha crença mostrou-se verdadeira por acaso, por coincidência.
»Além disso, a justificação daquilo que aconteceu sofreu uma alteração sem que eu soubesse.
»Se me perguntassem onde foram comprados os pastéis eu não teria uma resposta correcta.
»Portanto, apesar de eu ter uma crença verdadeira e de possuir uma justificação, eu não tenho um efectivo conhecimento.
»É esta a argumentação apresentada por Gettier nos contra-exemplos que contestam a teoria platónica.
»Mas é de realçar que esta teoria permaneceu aceitável durante vinte e quatro séculos sensivelmente.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

TÓPICOS DE LEITURA DO TEXTO "ARGUMENTAÇÃO, VERDADE E SER"

*A filosofia procura um conhecimento verdadeiro.
*A filosofia procura conhecer a realidade.
*A argumentação filosófica deve estar ao serviço da verdade.
*A argumentação filosófica é uma argumentação lógica (formal e informal).
*O filósofo usa argumentos formais e argumentos informais para fundamentar as suas teorias.
*A retórica sofística é um método de persuasão.
*A retórica sofística é usada para convencer um auditório.
*A retórica sofística não é um método de busca da verdade.
*Se a retórica não é um método de descoberta da verdade, então ela será obrigatoriamente alvo da crítica dos filósofos.
*Os argumentos lógicos usados na filosofia tornam mais clara a argumentação.
*Platão considera a retórica sofística manipuladora e critica ferozmente o seu uso.
*Platão, enquanto filósofo, desejava alcançar um conhecimento verdadeiro do real, por isso repudiava o trabalho realizado pelos sofistas.
*Os sofistas foram os primeiros professores de retórica e, logicamente, não estavam preocupados com a descoberta da verdade.
*Aristóteles é mais tolerante do que Platão relativamente à retórica.
*Aristóteles considera que se pode fazer um bom uso da retòrica, especialmente nos tribunais e nas assembleias quando a argumentação lógica for difícil de acompanhar.
*Apesar de tudo. a retórica foi importante para a democracia, visto que veio fomentar o debate de ideias, a troca de pontos de vista diferentes e o diálogo entre os cidadãos sobre os assuntos mais importantes para a cidade.

PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO

Espero que estes tópicos possam ser uma ajuda para uma boa compreensão deste tema.

PERSUASÃO
» É o bom uso da retórica.
»Tenta levar-se um auditório a aderir a uma tese ou a uma acção.
»Não se impõe nada, dá-se liberdade aos ouvintes para reflectirem e decidirem individualmente.

»O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da racionalidade do auditório.
»Há uma relação de igualdade entre orador e ouvintes, estes são respeitados por aquele.
»Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há transparência.
»Há autores que chamam à persuasão "retórica branca" ou persuasão racional.
»Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um.
»O orador vê os ouvintes como seres iguais a si e aceita a decisão deles.
»A persuasão é moralmente aceitável porque há um uso racional da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu".

MANIPULAÇÃO
»É o mau uso da retórica.
ȃ fazer com que outros aceitem ou realizem algo contra os seus melhores interesses.
»Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de decisão dos ouvintes.
»O manipulador procura usar a seu favor as limitaçãoes da racionalidade do auditório.
»Há uma relação vertical, desigual, em que os ouvintes são usados como instrumentos ao serviço do manipulador.
»Os objectivos são escondidos ou apresentam-se de forma confusa para não suscitar reflexão, não há transparência.
»Há autores que chamam à manipulação "retórica negra" ou persuasão irracional.
»O manipulador tenta evitar o espírito crítico e procura desviar as atenções do próprio tema que se devia debater, anulando ao máximo a autonomia dos ouvintes e a sua capacidade de avaliação da situação.
»Na manipulação há um desprezo claro pela individualidade e liberdade de decisão dos ouvintes.
»O manipulador vê os ouvintes como seres inferiores, que ele usa em proveito próprio.
»A manipulação é moralmente inaceitável porque há má fé e desrespeito pelos outros, os quais são considerados como meios ao serviço de alguém com objectivos ocultos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Abertura de emissão

Meus caros companheiros!
Com a abertura deste blogue espero tornar mais fácil o vosso estudo.
Publicarei textos, questionários e endereços na internet que possam ser úteis para o trabalho na disciplina. Além disso, poderão sempre colocar as vossas questões, fazer comentários e apresentar hipóteses de resposta a trabalhos. Eu tentarei responder sempre com a maior brevidade possível.