quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PLATÃO E O CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA

Tópicos de revisão relativos à concepção tradicional de conhecimento defendida por Platão (c.429 a.C. - 347 a. C.).

-Platão defende que o conhecimento parte sempre de uma crença, de uma convicção.
-Uma crença é uma atitude de adesão, é acreditar em algo.
-Qualquer pessoa que sabe alguma coisa tem que acreditar nessa mesma coisa.
-Para Platão, não podemos ter conhecimento de algo em que não acreditamos.
-A crença é, portanto, a primeira condição necessária para o conhecimento, mas não é suficiente.
-A crença é um ponto de partida para o conhecimento.
-Se admitimos que existe a verdade temos que admitir que existe a falsidade.
-A verdade ou a falsidade só existem relativamente a uma crença, opinião ou proposição.
-A verdade ou falsidade de uma crença depende de algo exterior à crença.
-Uma crença pode ser verdadeira ou falsa.
-Uma crença falsa não poderá conduzir a qualquer conhecimento.
-A segunda condição necessária para que ocorra o conhecimento é a verdade.
-Para haver conhecimento, é necessário que uma pessoa acredite em algo e que este algo seja verdadeiro.
-Contudo, podemos ter uma crença verdadeira e não se tratar de conhecimento, pois podemos ter uma crença e ela ser verdadeira por sorte ou por coincidência.
-Assim, uma crença verdadeira ainda não é conhecimento.
-Segundo Platão, é necessário que ocorra uma terceira condição para que haja conhecimento.
-A terceira condição necessária para que aconteça o conhecimento é a justificação.
-Uma opinião verdadeira só por si ainda não é conhecimento, é necessário que se possua uma justificação que comprove a verdade da crença.
-A justificação consiste na razão (ou razões) que suporta a verdade da crença.
-Platão defende que só quando estamos perante as três condições necessárias (crença, verdade e justificação) é que podemos afirmar estar na posse de um efectivo conhecimento.
-Assim, só podemos conhecer aquilo que se pode justificar e não podemos conhecer aquilo que não é possível justificar.
-Consideradas isoladamente, nehuma das condições é suficiente para que haja conhecimento.


CRÍTICA DE EDMUND GETTIER (n.1927) À IDEIA DE CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA.

-Num artigo de 1963, Gettier contestou a definição tradicional de conhecimento defendida por Platão.
-Gettier apresentou contra-exemplos que mostram que possuir uma crença verdadeira justificada pode não ser conhecimento.
-Para Gettier, é possível não possuir qualquer conhecimento mesmo que se tenha uma crença verdadeira justificada.

»»»Vejamos um exemplo, semelhante aos apresentados por Gettier, que contraria a teoria platónica.

»Uma noite encontrei o Rafael no supermercado a comprar dois pastéis de nata.
»Ele disse-me que os pastéis eram para oferecer à Ioana no dia seguinte.
»Eu cheguei à aula na manhã seguinte e disse ao resto da turma que o Rafael ia oferecer dois pastéis de nata à Ioana.
»Eu tinha uma crença verdadeira porque o vi a comprar os pastéis e a colocá-los num saco.
»A minha crença verdadeira estava justificada porque o Rafael me disse que os tinha comprado para oferecer à Ioana.
»E a verdade é que logo em seguida o Rafael entrou na sala com o embrulho e ofereceu-o à Ioana.
»Mas, acontece que durante a noite o Rafael teve fome e comeu os pastéis. Assim, os pastéis desapareceram e ele já não podia oferecê-los.
»A aula era logo à primeira hora da manhã e o Rafael veio à pressa, mas encontrou uma vendedora de pastéis junto à porta da escola. Aproveitou e comprou dois para a Ioana.
»Ora, apesar de eu acertar ao dizer que aquele aluno chegaria à aula com dois pastéis para a aluna em causa, eu não tinha efectivo conhecimento.
»A minha crença mostrou-se verdadeira por acaso, por coincidência.
»Além disso, a justificação daquilo que aconteceu sofreu uma alteração sem que eu soubesse.
»Se me perguntassem onde foram comprados os pastéis eu não teria uma resposta correcta.
»Portanto, apesar de eu ter uma crença verdadeira e de possuir uma justificação, eu não tenho um efectivo conhecimento.
»É esta a argumentação apresentada por Gettier nos contra-exemplos que contestam a teoria platónica.
»Mas é de realçar que esta teoria permaneceu aceitável durante vinte e quatro séculos sensivelmente.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

TÓPICOS DE LEITURA DO TEXTO "ARGUMENTAÇÃO, VERDADE E SER"

*A filosofia procura um conhecimento verdadeiro.
*A filosofia procura conhecer a realidade.
*A argumentação filosófica deve estar ao serviço da verdade.
*A argumentação filosófica é uma argumentação lógica (formal e informal).
*O filósofo usa argumentos formais e argumentos informais para fundamentar as suas teorias.
*A retórica sofística é um método de persuasão.
*A retórica sofística é usada para convencer um auditório.
*A retórica sofística não é um método de busca da verdade.
*Se a retórica não é um método de descoberta da verdade, então ela será obrigatoriamente alvo da crítica dos filósofos.
*Os argumentos lógicos usados na filosofia tornam mais clara a argumentação.
*Platão considera a retórica sofística manipuladora e critica ferozmente o seu uso.
*Platão, enquanto filósofo, desejava alcançar um conhecimento verdadeiro do real, por isso repudiava o trabalho realizado pelos sofistas.
*Os sofistas foram os primeiros professores de retórica e, logicamente, não estavam preocupados com a descoberta da verdade.
*Aristóteles é mais tolerante do que Platão relativamente à retórica.
*Aristóteles considera que se pode fazer um bom uso da retòrica, especialmente nos tribunais e nas assembleias quando a argumentação lógica for difícil de acompanhar.
*Apesar de tudo. a retórica foi importante para a democracia, visto que veio fomentar o debate de ideias, a troca de pontos de vista diferentes e o diálogo entre os cidadãos sobre os assuntos mais importantes para a cidade.

PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO

Espero que estes tópicos possam ser uma ajuda para uma boa compreensão deste tema.

PERSUASÃO
» É o bom uso da retórica.
»Tenta levar-se um auditório a aderir a uma tese ou a uma acção.
»Não se impõe nada, dá-se liberdade aos ouvintes para reflectirem e decidirem individualmente.

»O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da racionalidade do auditório.
»Há uma relação de igualdade entre orador e ouvintes, estes são respeitados por aquele.
»Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há transparência.
»Há autores que chamam à persuasão "retórica branca" ou persuasão racional.
»Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um.
»O orador vê os ouvintes como seres iguais a si e aceita a decisão deles.
»A persuasão é moralmente aceitável porque há um uso racional da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu".

MANIPULAÇÃO
»É o mau uso da retórica.
ȃ fazer com que outros aceitem ou realizem algo contra os seus melhores interesses.
»Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de decisão dos ouvintes.
»O manipulador procura usar a seu favor as limitaçãoes da racionalidade do auditório.
»Há uma relação vertical, desigual, em que os ouvintes são usados como instrumentos ao serviço do manipulador.
»Os objectivos são escondidos ou apresentam-se de forma confusa para não suscitar reflexão, não há transparência.
»Há autores que chamam à manipulação "retórica negra" ou persuasão irracional.
»O manipulador tenta evitar o espírito crítico e procura desviar as atenções do próprio tema que se devia debater, anulando ao máximo a autonomia dos ouvintes e a sua capacidade de avaliação da situação.
»Na manipulação há um desprezo claro pela individualidade e liberdade de decisão dos ouvintes.
»O manipulador vê os ouvintes como seres inferiores, que ele usa em proveito próprio.
»A manipulação é moralmente inaceitável porque há má fé e desrespeito pelos outros, os quais são considerados como meios ao serviço de alguém com objectivos ocultos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Abertura de emissão

Meus caros companheiros!
Com a abertura deste blogue espero tornar mais fácil o vosso estudo.
Publicarei textos, questionários e endereços na internet que possam ser úteis para o trabalho na disciplina. Além disso, poderão sempre colocar as vossas questões, fazer comentários e apresentar hipóteses de resposta a trabalhos. Eu tentarei responder sempre com a maior brevidade possível.