sexta-feira, 11 de abril de 2008

KARL POPPER E O FALSIFICACIONISMO




KARL POPPER (1902-1994) E A CRÍTICA À CONCEPÇÃO CLÁSSICA DE CIÊNCIA



- Popper é um autor que considera que o principal poder da racionalidade humana assenta na consciência da sua falibilidade.

- O reconhecimento da nossa ignorância e a recusa em aceitar certezas absolutas funcionam como o motor de todo o conhecimento científico.

- Popper defende que em ciência o método que vigora é o método falsificacionista.

- Este método consiste em submeter permanentemente as hipóteses ou teorias científicas a testes e críticas no sentido de lhes detectar erros ou falhas. O papel dos testes é tentar mostrar que as teorias são falsas e não provar que são verdadeiras.

- O trabalho do cientista não é verificar as suas teses, mas antes submetê-las às mais duras tentativas de refutação (falsificabilidade).

- Segundo Popper, tentar mostrar que uma teoria é falsa é a melhor forma de legitimar a força de uma teoria, caso ela resista a essa tentativa.

- Quando uma teoria resiste aos testes da sua falsificação, não podemos dizer que ela é verdadeira, só podemos dizer que a teoria é verosímil e que foi corroborada, isto é, que deve aceitar-se enquanto sobreviver aos testes.

- As teorias científicas que resistem aos testes mais severos devem ser levadas a sério, mas isso não quer dizer que elas possam ser consideradas verdades absolutas. Essas teorias podem ser vistas unicamente como aproximações à verdade, sendo esta considerada um ideal inalcançável.

- Popper opõe-se, portanto, ao método verificacionista e rejeita a indução, não aceitando que uma teoria científica possa ser verificada ou provada. A verdade absoluta de uma teoria nunca poderá estar garantida.

- As teorias, consistindo em enunciados universais e tendo que ser confrontadas com os factos através de experiências, apresentam-se como impossíveis de comprovar, visto que não é possível observar todos os casos existentes, nem sabemos com certeza absoluta se o que se verificou até ao presente se irá verificar no futuro.

- Uma teoria que resiste à tentativa da sua refutação é uma teoria na qual ainda não foram detectadas falsidades, mas no futuro poderá ser descoberta qualquer falha e, nessa medida, a teoria será substituída por outra mais forte e mais completa.

- Para Popper, a ciência não se apresenta como um conjunto de verdades irrefutáveis, mas sim como um esforço para eliminar o erro.

- Um critério fundamental que permite distinguir uma teoria científica de uma teoria não científica é a sua testabilidade. Na visão popperiana, uma teoria para poder ser científica tem que se prestar a ser testável ou refutável. Só deste modo a teoria poderá ser submetida a testes e resistir-lhes. Caso isto aconteça, a teoria será corroborada. Se não resistir aos testes, a teoria será refutada.

- A ciência progride por conjecturas (hipóteses aceites provisoriamente) e refutações. De eliminação de erro em eliminação de erro, a ciência vai-se aproximando da verdade.

- A ciência evolui por eliminação de erros e não por acumulação de verdades.

- Graças à crítica e aos testes permanentes, podemos testemunhar a descoberta de erros e falhas nas teorias científicas, facto que conduz ao aparecimento de teorias melhores e consequentemente, ao progresso da ciência.

- A ciência é, segundo Popper, uma actividade crítica que procura uma gradual aproximação à verdade. A verdade funciona como um ideal regulador que nunca se atinge, enquanto as teorias corroboradas são vistas como versões aproximadas da verdade.

- Todas as hipóteses científicas apresentadas para solucionar problemas são conjecturas que, sendo obrigatoriamente testáveis, mais tarde ou mais cedo darão origem a novas dificuldades ou a novos problemas.

- Uma teoria que resiste à tentativa da sua refutação terá de ser aceite pela comunidade científica. A teoria será corroborada até lhe ser detectada uma dificuldade ou uma falha. Quando isso acontecer, a teoria será substituída por outra mais consistente ou adequada.

- Além das teorias, também os testes se vão tornando mais fortes e eficazes. Este facto reforça a convicção de Popper de que uma teoria pode resistir hoje aos testes da sua falsificação, mas pode no futuro revelar uma falha ou um erro que só um teste novo conseguirá detectar.

- Assim, pode dizer-se que o erro tem um papel importante na construção de novas teorias e que o desenvolvimento da ciência é uma evolução em direcção à verdade, mas não a sua posse definitiva.

- A ciência é, para Popper, um processo dinâmico que vai proporcionando uma aproximação cada vez mais precisa a um entendimento da realidade, embora nunca se possa afirmar que se atingiu plenamente a verdade.

terça-feira, 1 de abril de 2008

CONHECIMENTO VULGAR E CONHECIMENTO CIENTÍFICO




O CONHECIMENTO VULGAR

- O conhecimento vulgar corresponde ao senso comum e abrange aquelas coisas que quase toda a gente sabe.
- Reporta-se àquilo que vamos aprendendo desde muito cedo e, por vezes, até de uma forma quase inconsciente.
- As crenças e opiniões que partilhamos, as tradições e jogos, as celebrações e ofícios, as tarefas e lendas dizem respeito ao senso comum.
- Adquire-se através da repetição de experiências, do testemunho e do exemplo dos outros (família, amigos, vizinhos, etc.), com a prática e também com os erros.
- Ajuda a sobreviver e a conviver, ajuda nas tarefas do quotidiano e nos mais diversos ofícios e ajuda-nos a desempenhar papéis sociais ao longo da vida.
- Trata-se de um conhecimento assistemático, pois consiste num conjunto de informações dispersas e pouco estruturadas.
- É um conhecimento superficial e mais direccionado para um domínio prático, porque não procura as causas e os porquês dos fenómenos e porque tem em vista o funcionamento das coisas e a realização de tarefas.
- É um conhecimento acrítico e passivo, na medida em que se aceita sem se pôr em causa, sem se questionar.
- Está pouco sujeito a mudanças rápidas ou radicais, embora não seja completamente estático, já que acaba, por vezes, por sofrer a influência das descobertas científicas.
- A linguagem usada no conhecimento vulgar é a nossa linguagem de todos os dias e, frequentemente, os termos utilizados são imprecisos e vagos.
- Apesar de ser muitas vezes dogmático e erróneo às vezes, o senso comum constitui um saber válido e indispensável.



O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

- O conhecimento científico diz respeito a um tipo específico de conhecimento que é realizado por cientistas em universidades, institutos de investigação, laboratórios, empresas, etc..
- É um conhecimento sistemático, já que as diferentes ciências consistem em corpos organizados de conhecimento.
- É rigoroso e objectivo, porque procura respostas para questões sobre o mundo, o homem, a natureza, a vida, etc., tentando obter respostas aceitáveis do ponto de vista lógico e racional.
- Assim, as ciências distinguem-se do senso comum porque têm em vista uma explicação dos factos que seja controlável através de experiências científicas.
- O conhecimento científico tem como objectivo explicar tão profundamente quanto possível os factos e fenómenos conhecidos.
- Através do senso comum sabemos que o metal dilata quando é aquecido, mas só a ciência nos mostra por que motivo isso acontece.
- As explicações científicas aparecem em teorias apresentadas por cientistas.
- Os cientistas tentam encontrar uma ordem por detrás das aparências e, para esse efeito, avançam hipóteses que visam captar as leis da Natureza.
- Quando são bem sucedidos, os cientistas conseguem explicar fenómenos muito diversos a partir de um número reduzido de leis.
- As teorias científicas são testáveis, isto é, os cientistas confrontam-nas com a experiência e elas podem ser modificadas caso não estejam de acordo com a realidade.
- Podemos afirmar que o conhecimento científico é acompanhado por uma atitude crítica, na medida em que os cientistas não encaram as teorias como inquestionáveis, podendo ser revistas em qualquer altura.
- Assistimos, portanto, à mudança de teorias científicas com alguma frequência.
- A linguagem científica é rigorosa, porque sem esse rigor não seria possível conceber teorias que expliquem os fenómenos e que possam ser controladas pela experiência.
- O conhecimento científico é hoje um tipo de conhecimento fundamental, pois desempenha um papel importantíssimo na vida dos homens, embora possa ter fortes implicações no meio ambiente. Por isso, não devemos encará-lo com reverência e passividade, mas sim com espírito crítico e problematizador.